Estreia_espetáculo “Velocidade”_no CCBB BH_com Quatroloscinco | dir.: Ricardo Alves Júnior
Décima montagem da companhia parte de reflexão poética sobre a efemeridade da vida e a rapidez dos tempos. A direção é do ator Ítalo Laureano e do cineasta Ricardo Alves Júnior, e a dramaturgia, de Assis Benevenuto e Marcos Coletta. Fundada em 2007, a companhia é hoje um dos principais nomes do teatro mineiro, com nove espetáculos apresentados em 21 estados do Brasil, além de Cuba, Uruguai e Argentina. São ao todo dez espetáculos, 12 prêmios e 23 indicações.
Nos dias de hoje, e se fosse possível desacelerar o tempo? Esse é o ponto de partida de “Velocidade”, novo trabalho do Grupo Quatroloscinco Teatro do Comum, que estreia no dia 2 de janeiro, quinta-feira, no Teatro II do CCBB BH. A décima montagem da companhia sela mais uma vez a parceria com o cineasta Ricardo Alves Júnior, que assina a quarta direção do grupo, agora, ao lado do ator Ítalo Laureano. A peça cumpre temporada até 03/02, de sexta a segunda, sempre às 19h. Nos dias 11, 18 e 25/01, sábado, as sessões contam com intérprete de Libras, e no dia 01/02, com audiodescrição. Os ingressos custam R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia-entrada), com desconto de 50% para clientes Ourocard, e estarão à venda a partir do dia 25/12, na bilheteria física do CCBB BH e pelo site ccbb.com.br/bh.
Dentre as ações gratuitas no CCBB BH, o grupo oferece no dia 18/01, sábado, um bate-papo após o espetáculo, e uma oficina intitulada “A palavra em cena: habitar o texto”, que acontece nos dias 22 e 23/01, quarta e quinta, das 18 às 22h, no Teatro II. Com carga horária de oito horas e classificação indicativa de 16 anos, a proposta é investigar o trabalho do ator a partir do texto em cena: o manejo da palavra falada e suas diferentes camadas de sentido. Serão propostas leituras, exercícios de construção e desconstrução do texto falado e criação de micro cenas, tendo a palavra como ponto de partida. Com vinte vagas, a oficina é voltada a artistas profissionais ou em fase de formação e experimentação, estudantes de teatro e público geral interessado. As inscrições podem ser feitas até 19/01, domingo, mediante preenchimento do formulário: https://forms.gle/mkxTBuxeTBwQn8bc7.
Mais Informações pelo (31) 3431 9400, no site ccbb.com.br/bh ou nas redes sociais: instagram.com/ccbbbh | facebook.com/ccbbbh.
Este projeto é realizado com recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura e da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. Com apoio do Circuito Liberdade e do Governo de Minas. Copatrocínio de Grupo Automax, Supermix e Centro Cultural Banco do Brasil. Incentivo: Lei Municipal de Incentivo à Cultura e Prefeitura de Belo Horizonte. Realização: Ministério da Cultura e Governo Federal
Livro-poema-sonho
Como subverter o tempo e a velocidade das coisas a partir da arte? Essa reflexão, encontrada há dois anos pelo ator Marcos Coletta no texto “Notas sobre os doentes de velocidade”, da autora mexicana Vivian Abenshushan, se tornou o ponto de partida para o novo espetáculo do grupo. “Vivian discorre sobre a sociedade contemporânea, que tem estabelecido uma relação patológica com o tempo. Ela diz que a literatura e as artes são máquinas de desacelerar o tempo. Percebemos que a metáfora encaixava bem com o que queríamos dizer enquanto coletivo, neste momento da nossa trajetória”, conta.
Durante as pesquisas, Coletta conta que o grupo dialogou com outras referências, como o “Oráculo da Noite” do Sidarta Ribeiro, a música e os clipes da Laurie Anderson, textos de Paul Preciado e o filme “Poesia Sem Fim” de Alejandro Jodorowsky. “Também mergulhamos nos nossos sonhos pessoais e criamos uma dramaturgia que consideramos um livro-sonho-poema: não nos prendemos a uma história linear ou à lógica dramática. É uma peça mais onírica, poética, onde brincamos de acelerar e dilatar o tempo. Imagens que vem e vão, rastros de memória, lapsos de imagens que aparecem, memórias inventadas, memórias reais”, explica.
Para quem assistiu à montagem cine-teatral “Luz e Neblina” (2024) – última produção da trupe inspirada em “Noites de Cabíria” de Fellini, e dirigida por Ricardo Alves Júnior – pode se surpreender. Ao contrário do que já se espera de Ricardo: atores contracenando diretamente com projeções e grandes telas de cinema, caraterística essa que também aparece em “Tragédia” (2019), em “Velocidade”, o público vai entrar em contato com uma cena mais analógica e intimista, centrada na presença dos corpos dos atores.
“Mesmo que não tenha o uso de tela e câmera, a linguagem do audiovisual está presente de outra forma. Essa é uma obra cujas sonoridades e imagens nos remetem também à poética cinematográfica. Para se ter uma ideia, a peça começa com um áudio de seis minutos que o espectador ouve praticamente no escuro. É o nosso convite a desacelerar, baixar a bola, deixar o tempo decantar, desafiar a ansiedade, habitar outro tempo da imagem”, adianta o ator.
A cena
O espetáculo está estruturado como as partes de um livro: capa, prefácio, dedicatória, sete partes e verso da capa. Nas sete partes aparecem situações diversas que tratam da relação humana com o tempo, muitas delas passando pelas relações familiares, rotina de vida no mundo capitalista, relações de trabalho e a morte. Conversando com a ideia de uma peça-livro, Luiz Dias e Carol Manso, que assinam a direção de arte, levam, para o centro do palco, uma mesa que funciona como página, onde os atores escrevem os títulos das cenas e mostram ao público, mas que também serve como um elemento que se desdobra em cena. “Essa ideia de uma peça-sonho-poema necessita que o espaço, os figurinos, os objetos de cena, possam ser transformados: precisam estar em cena, mas também precisam desaparecer. Não pode ser aquele cenário fixo, pesado, que imprime apenas uma ideia”, explica Assis Benevenuto, ator e dramaturgo.
Nesta montagem, o grupo também utiliza, em diversos momentos do espetáculo, cinco bonecos com cerca de 50 cm cada, como na cena talk-show. “Chamamos essa parte de Queda Livre. Cada boneco entrevista o seu duplo (ator/personagem). É uma cena absurda, veloz, onde os bonecos são mais sagazes do que nós”, comenta Assis. Confeccionados em madeira pelo artista Agnaldo Silva, os bonecos são pequenas reproduções de cada ator/atriz. Segundo o diretor Ítalo Laureano, a proposta não é fazer Teatro de Bonecos. “Nos interessa mais a relação que o espectador cria ao nos ver ali, em miniatura, como avatares, como espelhos, como objetos ‘ficcionalizados’ e descolados de nós mesmos”, explica.
Marina Arthuzzi assina a iluminação de “Velocidade”. Parceira do grupo desde os primórdios, a artista já criou as luzes de “É só uma Formalidade” (2009), “Outro Lado” (2011), “Get Out” (2013), “Humor” (2014), “Tragédia” (2019), “Apossinarmológuissi” (2023) e “Luz e Neblina” (2024). Juntos, venceram o prêmio Copasa/Sinparc de Artes Cênicas de Melhor Luz no espetáculo “Humor”. Em “Velocidade”, Ítalo Laureano conta que Marina desenvolveu dispositivos não convencionais para criar efeitos de luz e sombra, trazendo a manipulação de alguns deles para as mãos dos atores. “As luzes que a Marina cria para o Quatroloscinco são operadas de forma manual: ela sempre joga com a intensidade da ação dramática, fazendo uma luz ao vivo e viva, pois o teatro não se repete. Cada dia é realizado com diferentes sutilezas”, comenta.
Outro nome que se repete na equipe é do músico Barulhista, que está com a companhia desde 2015. “É um artista que pesquisa sonoridades e sons que vão além da mera ilustração da cena”, diz Laureano. Em “Velocidade”, quarta parceria com a trupe, não será diferente. “A trilha pode provocar diferentes sensações no público a cada nova cena, experimentando e distorcendo sonoridades urbanas do cotidiano”, acredita.
A orientação de movimento é de Kenia Dias, com quem o grupo vai trabalhar pela primeira vez. “Esse era um desejo antigo. Mais do que uma preparação corporal, nos interessa a troca artística. O trabalho de Kenia, seja como preparadora, diretora, ou atriz, sempre nos encantou. Kenia tem nos trazido um outro entendimento dos corpos em cena, principalmente nessa relação coletiva e na ideia de coro, conjunto, e corpo coletivo”, conta Assis Benevenuto.
O Teatro de Grupo
Em cena, estão juntos mais uma vez os integrantes fundadores do Quatroloscinco: Assis Benevenuto, Ítalo Laureano, Marcos Coleta e Rejane Faria. A atriz Michele Bernardino, que já substituiu Rejane em “Tragédia” e “Ignorância”, estará em “Velocidade”, só que dessa vez, participando desde o início da criação. “Ter os quatro em cena (agora cinco, com a Michele) é colocar no palco o Quatroloscinco na sua melhor versão, combinando as potencialidades e diferenças de cada um de nós. A peça tem muita coralidade, cenas em conjunto, queremos destacar a força do coletivo em cena. Isso tem a ver com nossa aposta no teatro de grupo, que anda tão desvalorizado. As peças estão cada vez com menos artistas em cena, com predominância de solos e duplas. Defender cinco pessoas em cena é reafirmar a força do grupo”, conclui Coletta.
FICHA TÉCNICA
Atuação: Assis Benevenuto, Ítalo Laureano, Marcos Coletta, Michele Bernardino e Rejane Faria Direção: Ítalo Laureano e Ricardo Alves Jr.
Dramaturgia: Assis Benevenuto e Marcos Coletta
Direção de arte: Luiz Dias e Caroline Manso
Figurino: Caroline Manso
Assistência de cenografia: Bárbara de Freitas Criação de luz: Marina Arthuzzi
Consultoria de iluminação: Rodrigo Marçal Trilha sonora: Barulhista
Composição das músicas ao vivo: Marcos Coletta e Michele Bernardino Sonorização: Daniel Nunes
Operação de som: Daniel Nunes e Adriel Parreira
Orientação de movimento: Kenia Dias Orientação vocal: Ana Hadad
Assistência de Produção: Yasmine Rodrigues Estágio de Produção: Joana Luz
Design gráfico: Bianca Perdigão
Fotografia: Igor Cerqueira Filmagem: Janaína Patrocínio Bonecos: Agnaldo Silva Cenotécnica: Helvécio Izabel
Observação de processo: Fernando Dornas
Preparação e tradução da cena em Libras: Dinalva Andrade Audiodescrição: Vias Acessíveis
Assessoria de imprensa, redes sociais e tráfego: Rizoma Comunicação & Arte Edição de teasers: Leonardo Alcântara – Projeto Ande
Gestão de projeto: Trama Gestão e Produção Produção: Grupo Quatroloscinco Teatro do Comum
QUATROLOSCINCO TEATRO DO COMUM
Com 17 anos de trajetória, o Grupo Quatroloscinco mantém trabalho continuado de pesquisa e prática teatral, baseado na criação coletiva e autoral sob uma estética contemporânea. O grupo busca uma cena centrada no jogo entre os atores, na relação com o texto e no encontro com o espectador. Surgido como um coletivo de pesquisa de alunos de Teatro da UFMG, o Quatroloscinco se profissionalizou e se tornou um dos mais destacados nomes do teatro mineiro, conquistando prêmios, circulando em dezenas de festivais e realizando ações em 88 cidades de 21 estados do país, além de Cuba, Uruguai e Argentina. Criou as peças “Velocidade”, “Luz e Neblina”, “Apossinarmológuissi”, “Tragédia”, “Fauna”, “Ignorância”, “Humor”, “Get Out!”, “Outro Lado” e “É só uma Formalidade”, que receberam 12 prêmios e 23 indicações. Também publicou seis livros com a dramaturgia de seus espetáculos.
Circuito Liberdade
O CCBB BH é integrante do Circuito Liberdade, complexo cultural sob gestão da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), que reúne diversos espaços com as mais variadas formas de manifestação de arte e cultura em transversalidade com o turismo. Trabalhando em rede, as atividades dos equipamentos parceiros ao Circuito buscam desenvolvimento humano, cultural, turístico, social e econômico, com foco na economia criativa como mecanismo de geração de emprego e renda, além da democratização e ampliação do acesso da população às atividades propostas.