ÚLTIMOS DIAS PARA ASSISTIR, NO PALCO DO CCBB BH, AO ESPETÁCULO “OS SOBREVIVENTES” – INSPIRADO NO CONTO HOMÔNIMO DE CAIO FERNANDO ABREU
Com direção de Ana Regis ("Peixes") e dramaturgia de Thomaz Canizza ("Fred & Laura"), a peça acompanha a intimidade de um ex-casal, no final dos anos 80, até que um deles decide ir embora. No palco, a verborragia do texto de Abreu expressa a angústia pelo envelhecimento dos ideais políticos, e traz referências de um Brasil pós-ditadura, sem heróis, embalado por Angela Ro Ro e Cazuza.

Últimos dias para assistir à plataforma Ato Junto com o espetáculo “Os Sobreviventes“, que nesta temporada de estreia tem ficado com a casa cheia em todas as sessões. A peça segue em cartaz somente até dia 21/04, de sexta a segunda, sempre às 19h, no Teatro II do CCBB BH. Baseada no conto homônimo do jornalista, escritor e dramaturgo gaúcho Caio Fernando Abreu (prêmio Jabuti) – reconhecido por uma literatura que representa a temática LGBT -, a peça traz para a cena a relação de intimidade entre duas figuras decadentes, no final dos anos 80. Na trama, “Ele” (Thomaz Cannizza) e “Ela” (Luciana Veloso) já foram um casal no passado mas, por algum motivo que será revelado adiante, seguem juntos em uma relação atípica, até que um deles decide se despedir. Agora, ambos terão uma semana decisiva como uma última chance para encararem as escolhas do passado e se libertarem. A direção é da atriz Ana Regis (Melhor Atriz Prêmio Sinparc, pelo espetáculo “Peixes”) e a dramaturgia e assistência de direção são de Thomaz Cannizza (Melhor Ator Prêmio Sinparc, pelo espetáculo “Fred & Laura”). Os ingressos custam R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia-entrada), com desconto de 50% para clientes Ourocard, e estarão à venda a partir do dia 19/03, quarta-feira, na bilheteria física do CCBB BH e pelo site ccbb.com.br/bh. Mais informações sobre a temporada e os bate-papos após o espetáculo pelo site ccbb.com.br/bh e nas redes sociais: instagram.com/ccbbbh | facebook.com/ccbbbh. Este projeto tem apoio do Centro Cultural Branco do Brasil e é realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.
O processo
“‘Os Sobreviventes’ é um texto que fala sobre essa relação paralela do amadurecimento como indivíduo e sujeito histórico, ao longo da vida. Levanta temas sobre a angústia do envelhecimento dos ideais políticos, mas também sobre a maturação do desejo individual, e como o político e o pessoal se retroalimentam. Caio escreve, nesse momento de abertura política do país, do fim do sonho revolucionário dos 70 e do desbunde dos 80, da ressignificação do amor e sexualidade numa sociedade conservadora, de Cazuza, da ausência de ideologias e da quebra de expectativa para brasileiros que esperavam a utopia após tantos anos de repressão“, comenta o ator e dramaturgo paulistano, idealizador da plataforma Ato Junto, Thomaz Cannizza.
Era 2018, ano de eleições federais no Brasil, em que o debate político estava aquecido no país, quando Cannizza decide montar o conto de Caio Fernando Abreu. “Apesar de escrito em 1982, a obra comunica uma espécie de sentimento que também estava muito latente no Brasil, uma espécie de desilusão e cansaço com a percepção do quanto a história é cíclica e como regimes opressivos vêm, vão e estão sempre ali na iminência. A arte como a do Caio Fernando, que é sensível, transcende o tempo e vai abraçando a universalidade que existe. Há obras que envelhecem bem e as que envelhecem mal. O conto do Caio só rejuvenesce. Por essa atualidade, achei que o teatro poderia ser um lugar frutífero para trazer as palavras do Caio”, comenta.
No ano seguinte, Thomaz convida a atriz Luciana Veloso (Melhor Atriz pelo Prêmio Cenym 2020, por “A Obscena Senhora H”) para uma residência de seis meses, na Funarte. Lá experimentam diversas possibilidades cênicas para o conto de Abreu. “Reunimos um material dramatúrgico rico e chamamos Ana Regis para assistir a um dos ensaios. Ela acabou assumindo a direção”, lembra Thomaz.
Com a chegada da pandemia, em 2020, os artistas escolhem não seguir, naquele momento, com o trabalho, e montaram o experimento digital “Tudo que eu queria te dizer mas não vou (ou Prólogo)”, também inspirado no conto Os Sobreviventes. “Uma pesquisa que Ana (diretora) trouxe muito do cinema, a ideia de um ‘extra campo’. Na época, investigamos o que poderia ser a relação entre os personagens antes do conto do Caio. Exploramos essa façanha nos moldes do isolamento social: dois personagens debaixo do mesmo teto, mas cada ator em sua casa”, conta Cannizza.
A cena
2025. De volta aos palcos, a dramaturgia é reescrita e adaptada para o encontro com o público, no CCBB. “Daqui a pouco, tudo será revirado”, contextualiza Cannizza logo na primeira rubrica do texto. O ator e dramaturgo sinaliza para um espaço cênico que passa a ser um depósito de toda quinquilharia da vida dos personagens. “Nada sai, só acumula, se amontoa, se coleciona. E fica cada vez mais difícil trafegar, encontrar as coisas, se encontrar, sair dali”, acrescenta.
Em ‘Os Sobreviventes’ a marca do trabalho está na essência do teatro: “bons atores e um bom texto, com diálogos dinâmicos, cheios de entrelinhas”, ressalta a diretora Ana Regis. Vinda de uma trajetória no teatro e no audiovisual, a artista conta que a encenação traz tom naturalista. O cenário e objetos assinados por Bruna Cosfer e Marina Góes, e os figurinos propostos por Bárbara Batitucci, combinados à iluminação de Gabriel Corrêa, compõem duas grandes atmosferas principais no espetáculo: os anos 80 e o plano da memória (flashbacks dos personagens).
“O espectador em nenhum momento vai ser levado pelo encantamento de grandes figurinos e cenários, mas pela verborragia e movimento das palavras. Além disso, a parafernália cênica está exposta. Não há coxias: os atores trocam de roupas em cena. São vestes cotidianas, uma ou outra mais datadas como a calça alta, as listras, o camisão ou o maiô. Estamos optando por explorar esse universo que não seja simplesmente de época, mas de algo que perdure no tempo”, contextualiza Ana Regis.
“A seleção de músicas, assinada por Thomaz Cannizza, faz referência a sucessos que marcaram os anos 80, mas não só. “Funk, movimento Dark, New Wave, muitas tribos foram aparecendo na época. Optamos por trilhas de décadas anteriores que poderiam não só embalar, mas também explicar os universos desses personagens: Mutantes, Dolores Duran – sons marcantes na melodia, no ritmo, mas também no discurso. Toda manifestação artística é registro de sua época. Essas canções ainda são ouvidas, não só porque grudam feito chiclete, mas por falarem de algo pungente, que permanece no tempo, tão vivo, assim como a obra de Caio”, diz.
Após temporada de estreia no CCBB BH, o espetáculo segue em cartaz no Teatro Raul Belém Machado, no mês de maio. Nesse mesmo período, será oferecida oficina gratuita de capacitação para inscrição de projetos culturais em editais da SMC de Belo Horizonte, tendo como público-alvo artistas, empreendedores e interessados em geral, com idade mínima de 18 anos. As inscrições estarão abertas a partir do dia 21.04, no Instagram @atojunto.
Circuito Liberdade
O CCBB BH é integrante do Circuito Liberdade, complexo cultural sob gestão da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), que reúne diversos espaços com as mais variadas formas de manifestação de arte e cultura em transversalidade com o turismo. Trabalhando em rede, as atividades dos equipamentos parceiros ao Circuito buscam desenvolvimento humano, cultural, turístico, social e econômico, com foco na economia criativa como mecanismo de geração de emprego e renda, além da democratização e ampliação do acesso da população às atividades propostas.
SERVIÇO
ÚLTIMOS DIAS: ESPETÁCULO “OS SOBREVIVENTES” NO CCBB BH
Baseado no conto homônimo de Caio Fernando Abreu
Temporada de estreia
Em cartaz somente até 21.04 – de sexta a segunda – às 19h, no Teatro II do CCBB BH
Ingressos a R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia-entrada), no site ccbb.com.br/bh e
na bilheteria física do CCBB BH (Praça da Liberdade, 450 – Funcionários – BH/MG)
Classificação indicativa: 14 anos
Informações: (31) 3431 9400 | ccbb.com.br/bh
instagram.com/ccbbbh | facebook.com/ccbbbh | E-mail: ccbbbh@bb.com.br