Primeira grande exposição imersiva de arte digital do CCBB, “LUZ ÆTERNA – Ensaio Sobre o Sol”, estreia em BH
A partir de 11 de dezembro, mostra gratuita convida o público a ser parte da experiência que une arte, tecnologia e sustentabilidade para celebrar a importância do Sol na jornada da humanidade; oito artistas e estúdios brasileiros assinam as obras
Há 200 mil anos, a humanidade se pauta pelo curso da principal estrela do universo: o Sol. De entidade divina ao papel crucial na tecnologia, sua jornada é o fio condutor da exposição “LUZ ÆTERNA – Ensaio Sobre o Sol”, a primeira grande mostra imersiva de arte digital do CCBB BH. A partir de 11 de dezembro até 10 de fevereiro de 2025, o público poderá vivenciar gratuitamente, a experiência proporcionada por sete obras inéditas na capital mineira, que ocupam o terceiro andar do Centro Cultural. A exposição tem patrocínio do Banco do Brasil por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Oito artistas e estúdios de new media art brasileiros, que usam arte digital e a luz como elementos primordiais, foram convidados a criar as obras site specific, concebidas exclusivamente para o CCBB. A partir de projeções e trilhas sonoras autorais, as instalações evocam a poética do Sol para proporcionar experiências sensoriais – o participante passa a ser o centro da obra e é convidado a vivenciar a evolução e o poder deste corpo celeste, essencial à vida na Terra.
“As sete obras são diferentes, mas se complementam ao fazerem uma ode à principal estrela do sistema solar. Na exposição, ilustram o que acontece quando o Sol, transformado em luz artificial e eletricidade, é incorporado pela mente de um artista”, destaca o curador Antonio Curti, cofundador da AYA, estúdio de new media art que realiza a mostra.
“Transitando entre o mundo físico e virtual, a mostra cria um espaço hibrido onde o público é parte ativa das obras”, destaca Felipe Sztutman, diretor da AYA. “As interações digitais, presentes em várias instalações, geram novos modos de participação, permitindo que o visitante transforme sua percepção de realidade. Essa integração entre real e digital oferece experiências que desafiam o sensorial e a própria noção de presença no espaço”
Para Curti e Sztutman, a expectativa de estrear em Belo Horizonte é grande – a capital encerra a itinerância da exposição, que passou por Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, reunindo mais de 325 mil visitantes. “Os belo-horizontinos são muito interessados na relação da arte com as novas mídias e estamos ansiosos para ver o impacto que as obras vão criar no público. ”
“Essa é a primeira grande exposição imersiva de arte digital que o CCBB Belo Horizonte recebe, e sua temática, centrada no Sol, nos convida a refletir sobre a energia vital que nos move e o futuro sustentável que queremos construir”, destaca a gerente geral do CCBB BH, Gislane Tanaka. “Os CCBBs são espaços que transformam experiências em reflexão e criação, acreditamos na força da arte e da tecnologia para inspirar novos olhares e conectar as pessoas a temas essenciais para o presente e o futuro do planeta”, completa.
Abordagem democrática
Para Antonio Curti, uma das características mais importantes de “LUZ ÆTERNA – Ensaio Sobre o Sol” é a sua abordagem universal e democrática, que toca o íntimo de cada um, independentemente da idade, escolaridade ou classe social. “Não tem certo ou errado nessa exposição, não há uma barreira de conhecimento que impeça uma boa experiência. É para entrar, sentir e sair transformado. São obras muito livres e cada pessoa, a partir da sua bagagem, vai criar a sua relação, o seu diálogo com as obras.”
Mesmo em tempos de tantos estímulos, o curador destaca que a exposição capta a atenção, já que o visitante sai da contemplação, passa para a imersão e se torna parte da experiência. Tem ainda um certo mistério, pois o público não sabe como tudo é feito, o que está por trás de cada obra, o que faz parte do encantamento da exposição.
Potência da arte digital brasileira
Acompanhando a evolução da tecnologia no mundo, a produção artística em novas mídias vem crescendo no Brasil e revelando grandes talentos. Ao desafiar os limites da expressão artística, obras autorais criadas na era digital têm colocado o país entre as referências de new media art.
LUZ ÆTERNA é um exemplo dessa cena. Segundo Felipe Sztutman, a mostra funciona como um hub criativo, no qual artistas brasileiros compartilham experiências e exploram soluções técnicas, culminando em uma exposição inovadora e destacando a capacidade do Brasil.
A participação exclusiva de brasileiros na exposição, como assinala Antonio Curti, demonstra essa potência. “Eles fazem parte de um novo movimento artístico, de extrema importância. Ao usarem recursos digitais e a luz como suporte para ativar poéticas, dialogam com aspectos contemporâneos da sociedade e com vários públicos.”
Conheça as sete obras que integram a exposição:
“Gênesis”, obra da AYA Studio, fundado por Felipe Sztutman e Antonio Curti, conta a história e influência do Sol, desde a sua origem até o seu papel fundamental na geração de eletricidade. Por meio de uma sala de projeção, os visitantes podem vivenciar a evolução e o poder do Sol, de uma forma lúdica, imersiva e sensorial – a trilha sonora original é da compositora Juvi Chagas. “Gênesis” ilustra como essa estrela central não apenas deu forma ao universo, mas também continua impactando a vida diária, a tecnologia e a sustentabilidade.
Já “Fluido Solar”, da artista ERO, é uma obra participativa que representa a busca pela iluminação, destacando o contraste entre o desconhecido e a luz interior de cada ser humano. A peça artística desafia a bidimensionalidade ao flutuar no espaço central da sala, oferecendo raízes como conexão com a Terra e a natureza. Transformando-se em um espelho interativo, ela reflete a jornada de cada visitante, convidando-o à contemplação da própria essência e da luz interior. Essa experiência pessoal ressalta a autodescoberta como um processo íntimo e incentiva a partilha dessa luz para guiar outros em suas jornadas.
Tecnologia e natureza
Além de celebrar a principal estrela do sistema solar, a exposição provoca reflexões sobre o impacto do Sol na natureza, na sociedade e na sustentabilidade. Embora a exposição traga uma mensagem reflexiva, relacionada ao meio ambiente, o tema é abordado de uma forma lúdica e poética. “Somos bombardeados o tempo todo por notícias negativas. A exposição não tem esse intuito. É um lembrete sobre a importância essencial do Sol para a vida na Terra e como as pessoas podem ver sua beleza em pequenos momentos”, sublinha o curador Antonio Curti.
A obra “Continuum”, por exemplo, usa dados em tempo real de fenômenos solares e meteorológicos captados via satélite. O espaço, criado pela Sala 28, de Junior Costa Carvalho e Rodrigo Machado, é composto de barras de LED endereçáveis pixel a pixel. A luz transcende seu papel tradicional e torna-se a narradora de histórias cósmicas. Na obra, a luz é mais que um fenômeno: ela atua como a linguagem universal que convida o visitante a interagir e contemplar os ruídos de um universo sempre em movimento.
“Perihelion”, por sua vez, aborda o fenômeno da essencialidade na natureza. Assinada pelo artista Bruno Borne, a obra mostra o gradual processo de despojamento, de economia de recursos, para se voltar ao que é essencial. A exatidão dos ciclos e o fetiche das órbitas pulsam. O céu é captado, reprocessado e projetado, em tempo real, no interior da sala, como uma câmera obscura. Nesse engenhoso processo, relógios concêntricos são postos em ação. O primeiro, uma elipse, tem o ciclo de um minuto e vai da escuridão à luz intensa, com um som que, sinestesicamente, funciona como um sino de anunciação. O segundo dura uma hora, marcando a rotação em torno de um espelho convexo circular (espécie de Lua, que reflete e difunde a luz do céu no ambiente). O terceiro circuito se estende do solstício de verão até seu equinócio.
Já a obra “Aquarela de Íons”, dos artistas Arthur Boeira e Gustavo Milward, propõe uma reflexão sobre a magnitude solar e seu poder de influenciar até mesmo corpos distantes em forma de data art. A obra envolve um sistema celestial e satélite que captura os íons solares e os apresenta de uma maneira imersiva e sensorial para o público, com a aproximação do espaço e território humano por meio de som, luz e imagem. A peça utiliza dados retroativos de fenômenos solares e apresenta um formato visual que narra as atividades do Sol nas últimas décadas.
Celebração sensorial
Integrando elementos astrofísicos e biológicos em uma experiência audiovisual sensorial, “Photosphere”, assinada pelo artista Vigas, mostra, por meio de uma tela circular, a dinâmica da fotosfera solar, com elementos e dados reais coletados do universo para criar padrões vibrantes e cores efêmeras. Sincronizada com uma trilha sonora original baseada em sons reais captados do espaço, a instalação estabelece uma conexão entre luz e som e transmite a intensa variação de energia solar.
Os visitantes são convidados a mergulhar em uma jornada que capta a essência do Sol como fonte de vida e sua influência profunda sobre a Terra e suas criaturas. “Photosphere” é uma celebração sensorial que convida o público a contemplar a riqueza de significados que o Sol oferece, desde sua essência física até seu impacto na vida terrestre.
“Céu Zero”, obra criada pelo artista Matheus Leston, questiona a forma de ver as coisas, usando, como pano de fundo, o horizonte – linha que está sempre distante, separando o céu e a terra. A peça artística traz questões como: o que aconteceria se, de alguma maneira, nós conseguíssemos capturar o horizonte? O que aconteceria se, finalmente, ele estivesse ao nosso lado e na altura dos nossos olhos? Talvez assim fosse possível entender que o céu não é plano, como nos parece quando olhamos para cima. Talvez assim fosse possível entender que as coisas que vemos não acontecem apenas uma ao lado da outra, mas também uma atrás da outra. Talvez assim fosse possível ver a luz se espalhando e dominando o espaço.
Acessibilidade
As sete obras que integram “LUZ ÆTERNA – Ensaio Sobre o Sol” possuem audiodescrição e versão em Libras, disponível a partir de QR Codes em cada sala da exposição. A mostra também conta com um objeto tátil, que aquece a partir do toque do visitante, fazendo referência à obra “Fluido Solar”, da artista Ero.
Sobre a AYA
Criado em 2018 pelo artista Felipe Sztutman e pelo curador Antonio Curti, AYA é um estúdio de new media art brasileiro com foco no desenvolvimento de projetos culturais que envolvem a criação de obras de arte, instalações imersivas e exposições que permeiam a arte digital e de novas mídias. Entre as exposições criadas pelo estúdio estão “Dimensão”, com obras em parceria com o duo japonês Nonotak Studio, a criação da projeção imersiva “Van Gogh Live 8K”, a realização da mostra “Oceanvs – Imersão em Azul” e da exposição “Arte da Alma – A História da Tatuagem no Brasil”. Além de projetos culturais, o estúdio AYA desenvolve instalações imersivas e obras de arte para marcas como Heineken, Audi, Volvo, Becks, São Paulo Fashion Week, entre outras.
Circuito Liberdade
O CCBB BH é integrante do Circuito Liberdade, complexo cultural sob gestão da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), que reúne diversos espaços com as mais variadas formas de manifestação de arte e cultura em transversalidade com o turismo. Trabalhando em rede, as atividades dos equipamentos parceiros ao Circuito buscam desenvolvimento humano, cultural, turístico, social e econômico, com foco na economia criativa como mecanismo de geração de emprego e renda, além da democratização e ampliação do acesso da população às atividades propostas.
SERVIÇO: “LUZ ÆTERNA – Ensaio Sobre o Sol”
Data: 11 de dezembro a 10 de fevereiro de 2025
Local: Galerias do 3º Andar do Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte
Endereço: Praça da Liberdade, 450 – Funcionários – BH/MG
Funcionamento: aberto de quarta a segunda, das 10h às 22h. Classificação indicativa: livre
Ingressos gratuitos disponíveis em ccbb.com.br/bh e na bilheteria física do CCBB BH.
Foto: Bruno Borne