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O custo da pressa: como o imediatismo organizacional adoece pessoas e sabota resultados

A cultura da urgência constante virou norma em empresas de todos os portes. Mas a pressa estrutural cobra um preço alto em termos de criatividade, saúde mental e clima organizacional

 

Responder tudo agora, entregar para ontem, correr o tempo todo. O ritmo acelerado do mundo corporativo se intensificou nos últimos anos com a digitalização de processos, a hiperconectividade e a lógica de entregas contínuas. O resultado? Uma cultura de urgência que se tornou crônica — e adoecedora.

 

“Hoje, o normal é não ter tempo para nada. Reuniões em sequência, decisões imediatistas, respostas sem reflexão. A empresa que opera nesse modo constante de urgência pode até gerar resultados no curto prazo, mas está sabotando sua saúde organizacional a médio e longo prazo”, afirma Renata Livramento, psicóloga e doutora em administração, com 30 anos de atuação em desenvolvimento de lideranças e programas de bem-estar.

 

Segundo ela, o imediatismo estrutural impacta diretamente a qualidade do ambiente emocional, a produtividade e a inovação. “Trabalhadores pressionados o tempo todo não conseguem pensar com profundidade, se conectar com o propósito ou ter clareza estratégica. Viram apenas operadores da próxima tarefa — e esse ciclo é exaustivo e improdutivo.”

 

Pressa virou sistema — e isso é um problema

A velocidade, por si só, não é o problema. O que adoece é a falta de critério. Quando tudo é urgente, nada é realmente estratégico. A pressa generalizada substitui planejamento por reação, escuta por impulsividade e saúde por desgaste acumulado.

 

O impacto é visível: dados da Associação Internacional de Gerenciamento de Estresse (ISMA) mostram que o Brasil é o segundo país do mundo com maior índice de burnout. A cultura da pressa — aliada à insegurança e à cobrança por performance a qualquer custo — é um dos principais gatilhos para o esgotamento emocional nas empresas.

 

Além disso, organizações que operam no modo “correria crônica” tendem a cultivar lideranças reativas, comunicação truncada e um ambiente onde o erro é punido, não discutido. Isso fragiliza a confiança psicológica e mina qualquer esforço de construção de uma cultura saudável.

 

Quando desacelerar é estratégia — não lentidão

 

Para Renata, uma mudança de mentalidade é essencial. Desacelerar não significa ser ineficiente. Significa criar tempo de qualidade para pensar, decidir e se relacionar. “Uma liderança que consegue fazer pausas conscientes, priorizar com clareza e sustentar processos com ritmo saudável gera mais resultado e menos rotatividade. Isso é inteligência organizacional”, afirma.

 

Entre as ações possíveis estão: revisões sinceras sobre as urgências reais, definição de rituais mais saudáveis de trabalho, ampliação da escuta para além da produtividade e criação de margens de tempo para absorção de demandas complexas.

O desafio é mudar o que virou padrão: “Em muitas empresas, estar sobrecarregado é sinal de comprometimento. A pressa virou status. Romper com isso exige coragem e visão”, diz Renata.

Fonte: Renata Livramento — Psicóloga | Doutora em administração | Especialista em gestão de saúde corporativa @renata.livramento

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