As obras expostas dizem muito mais do que mostram. Em cada camada histórias, sentimentos… Máscaras, tramas, esculturas, pinturas e colagens, feitas por 24 crianças entre 4 e 12 anos, resultados de processos de arteterapia do Núcleo Cria-te, facilitados pela psicóloga e arteterapeuta Bianca Solléro, vão poder ser vistas, analisadas, estudadas, apreciadas na 2ª edição da exposição Artistas de Si Mesmos. Com entrada gratuita, ela acontecerá de 22 de junho a 6 de julho, no espaço CSul Alphaville Lagoa dos Ingleses, Nova Lima.
“As obras produzidas em arteterapia comunicam para além do valor estético. Sua importância está no processo e nos significantes dos materiais e das técnicas que direta e intencionalmente facilitam os processos psíquicos que protagonizam as demandas de cada criança que compõe o grupo”, diz Bianca. São trabalhos produzidos por 24 meninos e meninas, que tratam de ansiedade, autoestima, relacionamentos e autenticidade.
A psicóloga explica que o processo arteterapêutico grupal ocorre com a escolha de uma temática comum a todas as demandas particulares das crianças, relatadas por suas famílias ou observadas pela própria profissional. “Ou seja, a partir das necessidades individuais eu encontro uma demanda coletiva e elaboro os processos de arteterapia, considerando técnicas e materiais que desenvolverão os processos psíquicos requisitados.”
Crianças entre 5 e 7 anos, segundo Bianca Solléro, sinalizaram ansiedade, expressa em convívio social (resultando em timidez ou fuga de encontros) até agitação motora e dificuldade em respeitar limites. “Deste trabalho nasceram máscaras em papel ou argila, desenvolvidas individual ou coletivamente, e autorretratos”, relata. Ela diz que os processos de produção das peças foram focados em mobilizar a autopermissão destes menores para escolher o que desejam apresentar ou esconder sobre si na relação com os outros.
O relacionamento foi a demanda coletiva da turma de 4 a 6 anos. “Perpassando questões individuais, como dificuldade de respeitar ordens, omissão da própria voz, conflito entre irmãos, superapego a melhores amigos e efeitos sentidos diante da separação dos pais”, conta a psicóloga. Tema que está em tramas e colagens, produzidas ao longo dos encontros porque, explica ela, entrelaçar fios, linhas e tiras de papéis proporciona o desenvolvimento psicocognitivo da noção de interdependência, que é a base para a elaboração da relação com o outro, além de dar segurança. “As colagens com pedaços de papel de seda ofereceram mais uma oportunidade de elaboração das relações por meio do exercício de composição de formas e cores bem como sobreposição de peças e suas transparências.”
A dificuldade de expressar os próprios sentimentos, agitação motora, interesse atrofiado em videogames e desinteresse no cotidiano com traços pré-depressivos foram parar nas esculturas feitas por crianças de 7 a 9 anos. Elas demonstraram estas peculiaridades, identificadas pela psicóloga que viu a necessidade de lidar com a autoestima. “Escolheu-se, portanto, práticas e processos que trabalhassem a tridimensionalidade, ora com argila, ora com papel.” Ela explica que, esculpindo estes materiais, a percepção sobre a capacidade de construir-se é ativada.
A garotada maior, de 9 a 12 anos, pôs sua autenticidade em desenhos e pinturas. “Perceber-se diferente e participante de um todo maior é o que está por trás dos trabalhos expostos por este grupo”, afirma Bianca Solléro. Além de todas as obras na mostra, de acordo com ela, painéis interativos vão convidar os visitantes a experienciar o autoconhecimento de forma leve e inovadora e refletir sobre a própria capacidade produtiva em relação à ansiedade, autoestima, relacionamentos e autenticidade.
“A exposição foi construída para engajar os espectadores, despertando sensibilidade e criatividade. Para as crianças que expõem é uma oportunidade para sentirem-se aceitas como essencialmente são e vistas pelo grande mundo. Para os visitantes, será uma experiência sensível, criativa e revigorante quanto ao sentido de ser e produzir na vida adulta”, diz a psicóloga. Ela acredita que quem for à exposição se surpreenderá com as conexões entre os trabalhos das crianças e as questões cotidianas de ordem prática da vida adulta, “que, aliás, tem nos adoecido mentalmente”. Na abertura da mostra, no sábado, dia 22, ela e as crianças vão estar no espaço, das 10h às 12h.
Serviço
O que: 2ª edição da exposição Artistas de Si Mesmos
Quando: de 22 de junho a 6 de julho, das 9h às 17h. A abertura será no dia 22, das 10h às 12h, com a presença dos artistas e da psicóloga Bianca Solléro, organizadora da mostra
Onde: espaço CSul Alphaville Lagoa dos Ingleses, Nova Lima
Entrada gratuita
São obras criadas por 24 crianças, entre 4 e 12 anos, divididas em 4 grupos:
Ansiedade – máscaras e autorretratos
Relações – tramas
Autoestima – esculturas
Autenticidade – desenhos e pinturas
O que é arteterapia?
É um processo de reflexão ontológica através da experiência com arte. Trata-se de uma atividade que descarta o “saber fazer” e coloca luz sobre a disponibilidade da pessoa de atrever-se por caminhos mais criativos de expressão e elaboração de si mesma focada no uso da criatividade
Quais benefícios?
Trata distúrbios de ansiedade, sintomas pré-depressivos e agitação de pensamentos
Favorece o desenvolvimento da inteligência emocional, saber o que sente e como expressar
Apoia o desenvolvimento da concentração, do foco e explora a criatividade
Desenvolve o senso de identidade para tomar decisões mais coerentes consigo e menos influenciáveis pelo externo
Equilibra a necessidade excessiva de controle
Mais sobre Bianca Solléro
Psicóloga e arteterapeuta com foco em criatividade e desenvolvimento humano. Fundadora do Núcleo Cria-te de Arteterapia, TEDxSpeaker, escritora e palestrante, formada em Belas Artes pela UFMG e psicologia pela Fumec, pós-graduada em arteterapia
Núcleo Cria-te de Arteterapia
Funciona na sala 210 do Shopping Alphaville, Centro 1, Lagoa dos Ingleses, Nova Lima, e oferece arteterapia em grupo. As sessões são todas estruturadas e conduzidas por Bianca Solléro.