Eles não sabiam nada sobre venda de imóvel, mas foi com a corretagem que conseguiram dinheiro para empreender na startup que ajuda varejistas
Rodando a cidade atrás de terrenos para ajudar numa negociação, Alexandre Kac e João Machado receberam comissão e conseguiram os primeiros valores para empreender e criar a Zoppy. A startup segue uma abordagem contrária de muitos players do mercado: quer crescer no varejo físico

A história de Alexandre Kac e João Machado com a Zoppy, uma ferramenta que oferece estratégias digitais para fidelizar clientes de pequenos e médios varejistas, começou com muitos quilômetros rodados de carro por Belo Horizonte (MG). Após receber uma comissão por auxiliar na venda de um apartamento, Machado se atinou para o potencial de criar parcerias com corretores de imóveis para, ajudando-os a localizar um terreno para uma grande negociação e conseguir levantar os recursos necessários para dar vida à empresa. O feito deu certo e os R$ 180 mil arrecadados possibilitaram à dupla de amigos investir em desenvolvedores e construir a primeira versão do produto do negócio. Desde então, são 500 clientes e mais de 3,7 milhões de consumidores impactados em todo o Brasil. Para 2024, o plano é ainda mais ousado: conquistar mais de 1200 novos clientes e R$ 6,9 milhões de faturamento.
Amigos desde a faculdade e até já tendo empreendido antes, foi numa conversa de bar em abril de 2021 que eles perceberam que uma ideia do João poderia ser bastante lucrativa. Na época, atrás de uma solução para ajudar a empresa da família, que enfrentava dificuldades para fidelizar os clientes, Machado pensou em implementar uma ferramenta que, por meio de algumas estratégias, como o envio de cupons de descontos ou valores que podem ser resgatados em compras futuras, bem como mensagens automáticas via SMS ou WhatsApp convidando o cliente a consumir novamente, aumentasse a taxa de recompra para o lojista. Kac, que trabalhava no segmento de varejo, viu o potencial do negócio, sobretudo se o público-alvo fosse pequenos e médios varejistas. Sem acesso a boas ferramentas, já que a maioria é cara e, portanto, inacessível, esse nicho poderia encontrar neles uma solução comum ao empreendedor: obter mais lucro com a mesma base de clientes.
Daquele encontro, foram só mais três meses para que os primeiros passos fossem dados. Os amigos novamente uniram forças, alugaram uma sala de 5m² na capital mineira e passaram a dividir o tempo entre o trabalho em que atuavam como home office e a criação da primeira versão do produto. Porém, era preciso recursos para colocar a ferramenta no ar. Foi então que começou a dupla jornada: de segunda a sexta no escritório conciliando dois trabalhos e aos sábados e domingos rodando a cidade em busca de oportunidades imobiliárias para financiar o sonho do próprio negócio. Em quatro meses lançaram o serviço de assinatura da plataforma por R$ 297,00 e conquistaram o primeiro cliente, o Guilherme Avelar, que, em seis meses, também se tornou sócio-investidor, aportando mais de R$ 120 mil ao negócio e mergulhando na operação. Hoje, Avelar é diretor de marketing da Zoppy.
Uma história de milhões
Em março de 2023, numa rodada de captação, a startup levantou R$ 1 milhão, o que viabilizou no mês seguinte a entrada definitiva no mercado. Hoje, um ano depois, continua crescendo em escala e já impactou mais de dois milhões de consumidores brasileiros. Com capacidade de elevar o faturamento do cliente em 20% logo nos primeiros meses e o acréscimo de 32% na taxa de recompra a partir das estratégias adotadas, pode atender uma ampla variedade de segmentos do mercado, de moda e acessórios a produtos para casa e alimentação.
Ambos de família empreendedora, tendo os avôs como grande inspiração, João e Alexandre se conheceram durante o estágio que fizeram na consultoria ligada à faculdade em que estudavam. Progredindo dentro do ambiente corporativo, eles foram estimulados pelos clientes a abrir a própria empresa. A consultoria inicialmente até prosperou, mas logo deixou de fazer sentido para a dupla, que resolveu finalizar as operações em 2020. João então foi atuar em uma construtora e Alexandre numa startup ligada ao e-commerce, onde conheceu o Guilherme Avelar.
Embora não estivessem juntos no dia a dia, a amizade construída durante o estágio se manteve e conservou o desejo de seguirem unidos no empreendedorismo. E foi em 2021, naquela mesa de bar, que João compartilhou a dor familiar. Donos de uma empresa de botijão de gás no Piauí, a família encontrava dificuldade de manter os clientes, uma vez que alguns centavos no preço do botijão de gás já determina se o cliente vai comprar ou não com ele. Perdendo a clientela, João pensou em formas de ajudar a família a fidelizar o consumidor, fazendo com que ele voltasse a comprar novamente.
Foco no varejo físico
Os executivos estão de olho em uma tendência contrária à abordagem convencional, em que muitos players direcionam seus esforços principalmente para o varejo digital. “Surpreendentemente, há um movimento crescente em direção ao varejo físico por parte de algumas empresas. Enquanto a era digital continua a moldar o modo como fazemos compras, há uma apreciação renovada pelo espaço físico e pelas interações tangíveis que ele oferece aos consumidores”, explica Machado.
Segundo o executivo, essa mudança de paradigma é impulsionada por uma variedade de fatores, como o reconhecimento crescente da importância da experiência do cliente. Embora o comércio eletrônico ofereça conveniência e acessibilidade incomparáveis, muitos consumidores ainda valorizam a oportunidade de ver, tocar e experimentar produtos pessoalmente antes de fazer uma compra e para João, se destacará no mercado quem conseguir intercalar as duas operações, entregando uma experiência completa para o cliente e atendendo do melhor modo possível nos dois universos.
É nesse cenário que João e Alexandre, agora somados ao Guilherme, seguem de olho nesses lojistas e contribuem para a democratização e acesso às ferramentas digitais de estratégia de negócios e tecnologia focadas no relacionamento com o cliente (CRM, sigla em inglês para Customer Relationship Management), dando a possibilidade ao pequeno e médio varejista de vender e faturar mais com menos esforço e com a mesma base de clientes já conquistada. A depender do empenho dos amigos, a Zoppy deve ir longe e chegar a todas as regiões do país, estimulando o máximo de pessoas a conquistar também, assim como eles, o sonho de ser um empreendedor bem-sucedido.