Como o tomate tipo grape conquistou os lares brasileiros, e o que isso revela sobre o futuro da nossa alimentação

*Por João Henrique Kozlik Schumaikel
Nos últimos 15 anos, acompanhei de perto uma mudança significativa no comportamento do consumidor brasileiro quando o assunto é hortaliça. E poucas culturas traduzem tão bem essa transformação quanto o tomate tipo grape. O que antes era uma variedade desconhecida para a maioria das famílias hoje está presente em feiras, supermercados e, principalmente, na lancheira das crianças.
Esse crescimento não é por acaso — ele é resultado direto da evolução genética, da melhoria dos processos de cultivo e, acima de tudo, de um alinhamento cada vez maior entre o que o produtor entrega e o que o consumidor deseja. E eu digo isso com base em mais de 25 anos de atuação no setor, atendendo produtores em todos os estados do Brasil e com conexão comercial com mais de 15 países.
A demanda pelo tomate tipo grape cresceu exponencialmente no Brasil na última década.
Mas por que esse tipo de tomate caiu no gosto dos brasileiros?
Do ponto de vista técnico, o grape apresenta características superiores em produtividade, resistência a doenças e uniformidade de colheita. Mas do ponto de vista do consumidor, o diferencial é sensorial: o fruto é doce, tem textura firme, casca fina e formato atrativo. É fácil de higienizar, vem em embalagens práticas e pode ser consumido como snack, o que agrada especialmente às famílias com crianças pequenas.
Tenho escutado muitos relatos de pais e mães que contam que os filhos antes recusavam qualquer tipo de tomate, mas agora pedem o grape no mercado. A explicação está no sabor: o nível de açúcar (°Brix) dessa variedade é mais alto, o que proporciona uma experiência semelhante à de uma fruta. E, para uma criança, isso faz toda a diferença. O tomate grape virou porta de entrada para uma alimentação mais saudável.
Outro ponto importante é que essa variedade democratizou o acesso à inovação genética no campo. Quando comecei minha empresa em 2007, importar sementes de tomates especiais era um processo custoso e limitado. Hoje, graças à colaboração com fornecedores de diferentes países e ao esforço de adaptação ao nosso clima, conseguimos entregar cultivares mais resistentes, produtivas e com sabor superior para pequenos e médios produtores brasileiros.
Essa evolução beneficia toda a cadeia: o produtor consegue melhor rentabilidade com menos perdas e o consumidor recebe um produto mais fresco, bonito e saboroso na gôndola.
Acredito que o sucesso do tomate tipo grape no Brasil aponta para um caminho que devemos seguir: aproximar tecnologia, nutrição e prazer alimentar. Se conseguimos fazer uma criança comer tomate com gosto, podemos fazer o mesmo com outras hortaliças. E o que guia essa transformação é a genética aplicada com inteligência e propósito.
Mais do que vender sementes, meu trabalho é contribuir para um mercado que valorize alimentos saudáveis, acessíveis e sustentáveis. O grape nos mostrou que é possível. Agora, é hora de expandir essa lógica para outras culturas — no Brasil e, em breve, também nos Estados Unidos.
*João Henrique Kozlik Schumaikel soma 27 anos de experiência no agronegócio e está à frente de uma empresa brasileira que atua no comércio de sementes e insumos agrícolas. Com atuação consolidada em quase todos os estados e relações comerciais com fornecedores de 15 países, o empresário agora projeta uma expansão estruturada para os Estados Unidos, de olho no crescimento da demanda por alimentos com valor nutricional diferenciado.