Cineclube Comum traz exibição inédita no Cine Santa Tereza na mostra ‘Defesa do Atrito II’
O projeto realiza sessões comentadas mensais gratuitas, e exibe em julho o curta 'Abecedario/B' (México, 2014) e do longa 'Revolution + 1' (Japão, 2022), que terá sua primeira exibição no Brasil, com comentário do cineasta João Dumans.

No dia 1º de julho, às 19h, o Cineclube Comum realiza, no Cine Santa Tereza, a exibição inédita no Brasil do longa-metragem japonês ‘Revolution + 1’, de Masao Adachi, e do curta experimental mexicano ‘Abecedario/B’, do coletivo Los Ingrávidos e contará com comentário do cineasta João Dumans. A exibição integra a Mostra Defesa do Atrito II que promove sessões mensais até dezembro que possibilita o encontro entre filmes raros e debates críticos em uma programação que valoriza a diversidade estética e política do cinema. A sessão possui entrada gratuita, e os ingressos podem ser retirados pelo site da Sympla ou na bilheteria do cinema 30 minutos antes da sessão.
Abrindo a sessão, o curta ‘Abecedario/B’ (México, 2014), do coletivo Los Ingrávidos, é uma peça experimental que trabalha diretamente sobre a matéria do cinema, queimando fotogramas de trabalhadores em um gesto político e iconoclasta. Em seguida, será exibido o longa ‘Revolution + 1’ (Japão, 2022), de Masao Adachi, que traz à tela uma narrativa ficcional sobre o assassinato do ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe. Com estética que mistura crítica política, musical e teatro moderno, o filme tensiona os limites entre drama histórico e especulação poética, e propõe ao espectador uma tomada de posição ética e política diante da história recente do Japão.
O veterano cineasta e ativista Masao Adachi é um dos nomes mais importantes da chamada Nova Onda Japonesa, o movimento de renovação do cinema do país asiático que contou também com nomes como Nagisa Oshima, Kōji Wakamatsu e Shōhei Imamura. Nos anos 1970, deixou de fazer filmes para se alistar na organização de extrema esquerda Exército Vermelho Japonês, e viveu por 28 anos no Líbano, colaborando com a Frente de Libertação da Palestina. Preso e extraditado de volta ao Japão nos anos 2000, esteve na cadeia durante um ano e meio, e depois desse período retomou sua carreira cinematográfica. Ele permanece impedido de sair do Japão por seu histórico de envolvimento com a guerrilha.
Um dos programadores do cineclube, Fábio de Carvalho, ressalta que os filmes escolhem caminhos de lidar com o político muito distintos, e o que o cineclube busca nas sessões são esses encontros improváveis. “Um elemento interessante é essa diferença entre um curta que age sobre fotogramas, essa matéria primeira do cinema, e que por meio deles remete a violência fundadora da exploração dos trabalhadores, e um longa metragem realizado no calor do momento, uma representação de um assassino político de nossos tempos, com imagens dos nossos tempos. Como se a memória, o luto, o ressentimento ganhassem um corpo vingativo, e nada heróico ou idealizado, no presente”, destaca Fábio de Carvalho.
Cineclube Comum
O Cineclube Comum é um projeto de curadoria, exibição e discussão cinematográfica em atividade desde 2012 em Belo Horizonte. A mostra ‘Defesa do Atrito II’ propõe uma programação que atravessa diferentes gêneros, nacionalidades e épocas, apostando na fricção entre filmes e espectadores como espaço de reflexão e pensamento. As sessões ocorrem sempre na primeira terça-feira do mês, com exceção de agosto, quando será realizada excepcionalmente no dia 12. Todas as sessões contam com a exibição de um curta e um longa-metragem, seguidos por comentários de convidados da crítica e do cinema.
Com programação de Victor Guimarães, Fábio de Carvalho e Helena Elias, a mostra ainda inclui exibições nos dias 12 de agosto, 2 de setembro, 7 de outubro, 4 de novembro e 2 de dezembro. Além das sessões noturnas, estão previstas exibições educativas pela manhã, voltadas para estudantes da rede pública, com o documentário ‘Os Dias com Ele’, de Maria Clara Escobar. O projeto reafirma o compromisso do Cineclube Comum com a formação de público e a criação de espaços de diálogo em torno do cinema como experiência crítica e coletiva.
Sobre o convidado
João Dumans é pesquisador e realizador de cinema. Dirigiu os filmes “As Linhas da minha mão” (2023), escolhido Melhor Filme na 26ª Mostra de Tiradentes, e “Arábia” (2017), co-dirigido com Affonso Uchoa, ganhador do prêmio de Melhor Filme no 50º Festival de Brasília. Trabalhou como assistente de direção, roteirista e montador em filmes como “Os Residentes”, “A Vizinhança do Tigre”, “A Cidade onde Envelheço”, “Os Sonâmbulos” e “Sete Anos em Maio”. Foi programador do Cine Humberto Mauro, em BH, e professor de Cinema e Audiovisual da UNA.
SERVIÇO
Mostra ‘Defesa do Atrito II’ – Cineclube Comum
Local: Cine Santa Tereza
Endereço: Rua Estrela do Sul, Nº 89 – Bairro Santa Tereza – Belo Horizonte.
Data: Terça-feira, 1/7, às 19h
Classificação: Indicação livre
Entrada gratuita – Os ingressos para as sessões podem ser retirados pelo site da Sympla ou na bilheteria do Cinema 30 minutos antes da sessão.
Classificação etária: 18 anos
FILMES:
Abecedario / B (Colectivo Los Ingrávidos, México, 2014)
Gênero: experimental
Duração: 5 minutos
Sinopse: Fotogramas de trabalhadores são queimados. Na imagem vemos os pequenos afogueados que incidem sobre a película, formando crateras que se alastram. A banda sonora alude à intervenção que incide sobre a matéria filmada, e também aos trabalhadores massacrados pelo capital. Entre um ímpeto iconoclasta e o chamado à revolução, o coletivo Los Ingrávidos dá a ver o que há de mais político no gesto de corroer a matéria.
Revolution + 1 (Masao Adachi, Japão, 2022)
Gênero: ficção
Duração: 75 minutos
Sinopse: Diante do assassinato do ex-primeiro-ministro Shinzo Abe, um controverso líder que dominou a política japonesa por uma geração, o veterano Masao Adachi faz algo que, talvez, só a mente de um velho cineasta revolucionário poderia conceber: filma em poucas semanas uma ficção sobre o assassino, para ser mostrada nas mesmas datas dos polêmicos funerais de Estado de Abe. Em Revolution+1 (2022), filme inédito no Brasil, somos convidados a habitar a subjetividade desse rapaz, cuja motivação para o assassinato oscila entre a denúncia das ações criminosas de Abe e a vingança pessoal; entre a ação política e o puro ressentimento. O estilo balança entre a análise crítica da sociedade japonesa e a artificialidade de um musical, entre o teatro moderno e a comédia ligeira, entre a trilha sonora cafona e a urgência da história recente de um país. Escapando a maniqueísmos fáceis, Adachi nos faz encarar as contradições, e nos incumbe com a tarefa moral e política de formular nossa própria posição.