“Movimento de Escuta”, espetáculo de dança e arte surda, chega a Belo Horizonte
Montagem da Cia. SOM, dirigida por Clara Kutner, faz temporada na cidade de 23 a 27 de setembro, durante a Mostra do CRDançaBH. Em cena, cinco bailarinos surdos combinam funk, passinho e SLAM e mostram que superar limites é mais do que uma prova de resistência, mas de existência.

O espetáculo “Movimento de Escuta”, projeto de dança e arte surda da Cia. SOM, do Rio de Janeiro, se apresenta pela primeira vez em Belo Horizonte. Com direção de Clara Kutner – diretora de sucessos na TV como “Tapas e beijos” – a montagem reúne cinco jovens bailarinos surdos – Alef Felipe, Lucas Guilherme, Luiz Augusto, Thaís Souza e Thayssa Araújo – que tocam o espectador com poesia corporal visual e encontram o rompimento da “invisibilidade”. Este espetáculo tem patrocínio da Vale.
Aclamado na Mostra Surda de Teatro, que integra o Festival de Teatro de Curitiba, “Movimento de Escuta” faz temporada na capital mineira de 23 a 27 de setembro, durante a mostra CRDançaBH, realizada pela Prefeitura de Belo Horizonte, por meio do Centro de Referência da Dança e do Circuito Municipal de Cultura. As apresentações acontecem no Teatro Raul Belém Machado e Teatro Marília, com ingressos gratuitos, retirados no site Sympla ou 1 horas antes das sessões nas bilheterias dos espaços. A programação contempla também a realização de uma oficina, bate papo performático e exibição de filmes.
“Movimento de Escuta” é resultado da direção co-criativa de Clara Kutner – que há sete anos iniciou a sua trajetória na arte surda – junto com Alef Felipe, Lucas Guilherme, Luiz Augusto, Thaís Souza e Thayssa Araújo. O roteiro da montagem traz algumas das muitas referências e experiências dos bailarinos que, em cena, transbordam os sentimentos por meio dos movimentos corporais. “Movimento de escuta é um lugar de fala, onde os conflitos internos dos atores ganham expressividade corporal. Mas a relação de cada um deles com a performance é íntima”, explica Clara Kutner.
A invisibilidade e a autoestima são temáticas presentes no espetáculo, mas não resumem a obra, conforme comenta a bailarina Thayssa Araújo. “Cada um apresenta a sua história, a sua identidade. O que a gente quer é abrir a mente da sociedade, mostrar que os surdos também têm a sua cultura.” A diretora Clara Kutner completa que “a batalha é retrato do processo criativo, mas não se resume à obra.”
Ao longo da performance, é estimulante ver como os bailarinos, diante da impossibilidade da escuta, alcançam a sincronia tão essencial à dança. Tal efeito deve-se ao fato de terem suas atenções e sensibilidades voltadas a estímulos outros, como o da vibração do som, a percepção do entorno e o da própria relação com o tempo. E o resultado é algo potente, vibrante e arrebatador. “Movimento de escuta significa receber a vibração e a energia. E depois mostrar e distribuir através da dança”, diz o bailarino Lucas Guilherme.
A música também se coloca como um elemento de conexão com esse lugar de fala. O objetivo não é escutá-la, mas senti-la. “A música, além de melodia, é vibração. As pessoas acham que os surdos não têm música, mas a gente tem. A diferença é que a gente sente na pele, dentro da gente”, afirma Alef Felipe.
Com coreografias são assinadas por Celly IDD – referência na inserção e construção feminina na vertente que ficou conhecida como Passinho Foda – as performances misturam elementos da experiência dos integrantes do grupo, como o funk e o passinho carioca. O roteiro é composto também de referências às artes visuais (Alef Felipe é também artista plástico) e a poesia, abarcando os Slams – disputas de improvisação poética que ocorrem nas periferias. E, sim, há momentos falados, por meio da língua de sinais (Libras), uma vez que discutir inserção e pertencimento fazem parte do espetáculo.
“É esse campo de batalha que a gente vive. Essa tentativa de acordo, é sobre o amor. É o amor, no final, que a gente procura”, finaliza Clara Kutner.
Oficina e bate papo
A companhia irá oferecer também, dentro da programação da Mostra CRDança, a oficina gratuita “Dança com Libras e vibração”, no dia 24 de setembro, às 19:00, no Núcleo de Formação e Criação Artística e Cultural – NUFAC (Av. dos Andradas, 367 – Centro). Conduzido por Clara Kutner e os bailarinos da cia SOM, o conteúdo busca estimular a pesquisa da vibração como importante facilitador da dança no caso de pessoas surdas. A oficina consiste em improvisos das técnicas de dança contemporânea e funk, criação coreográfica, aula de música-estudo rítmico e percepção melódica, Visual Vernacular e improvisação em LIBRAS. Os interessados em participar precisam preencher o formulário disponível no link https://forms.gle/Nggn2m8wzsRY2Bb8A
A programação inclui, ainda, o bate papo performático sobre o tema “A Arte Quebra Tabu”, no dia 26 de setembro, às 21h, no Teatro Marília. O grupo convida artistas locais – surdos e ouvintes – para uma roda aberta de expressão artística. O encontro será mediado por Clara Kutner, com as participações dos artistas Brisa Marques, Uyan Vilela e Roberta Pessoa, nomes potentes da cena artística local. O bate papo acontece logo após a apresentação do espetáculo. A entrada é gratuita.
Exibição de filmes
Durante a temporada em BH, a Cia. SOM também exibe o curta “Mouco: um quase documentário sobre outras audições”, de Uyan Vilela. O filme propõe uma escuta sensível e questiona as noções tradicionais de corpo e audição, convidando à reflexão sobre acessibilidade, identidade e pertencimento, a partir de outras formas de comunicação e percepção do mundo. O público também pode assistir ao oitavo episódio da série “JÁ!”, de Clara Kutner. Em cena, os artistas dançam numa referência à sobrevivência à pandemia da Covid19, que causou extrema impotência. Na série, a dança e a luta se misturam com a vontade de viver!
As exibições dos filmes acontecem dentro da programação da Mostra CRDança, no dia 27 de setembro, às 19h, no Teatro Marília. Entrada mediante retirada de ingressos pelo site Sympla ou 1 hora antes da exibição na bilheteria do teatro.
Sobre a diretora:
Formada em Cinema pela TAI/Madri, Clara Kutner atua em segmentos que vão do cinema à dança, passando pelo teatro e pela TV. Na TV Globo, atuou como diretora de atrações como “Tapas e beijos” (a mais assistida no Globoplay após Fernanda Torres ganhar o Globo de Ouro por “Ainda estou aqui”), a novela “Escrito nas estrelas”, a série “Aline” e, juntamente com Maurício Farias, quadros para o “Fantástico” como “Sexo oposto” e “Bicho homem”. Entre seus trabalhos mais recentes estão o espetáculo “Meu corpo está aqui”, que trata da sexualidade das pessoas com deficiência (PCDs) e a série “Pedaço de mim” (Netflix).
Sobre a SOM Cia de Dança
Criada por Clara Kutner em parceria com os dançarinos Alef Felipe, Luiz Augusto, Lucas Guilherme, Thayssa Araújo e Valesca Soares, a companhia é composta por jovens dançarinos surdos e pesquisa a dança na cultura surda. Clara Kutner conta também com artistas surdos parceiros como os atores Bruno Ramos e Ricardo Boaretto na criação de seus trabalhos. Sua primeira realização foi a vídeo instalação SOM, “Uma coreografia para surdos”, que nasceu em 2018 no projeto Artsonica Residência Artística, e uniu dança, música e LIBRAS. Em 2021 o grupo criou “Já!”, uma série de videodança ao ganharem o edital da Lei Aldir Blanc.
Ficha técnica:
Criação e Direção Geral: Clara Kutner
Intérpretes Criadores: Alef Felipe, Lucas Guilherme, Luiz Augusto, Thais Souza, Thayssa Araújo
Coreografias, Técnica do Funk e Colaboração Musical: Celly IDD
Dramaturgia e Colaboração Coreográfica: Cia de Dança SOM
Direção Musical: Luciano Camara
Intérprete ensaios: Christofer Moreira
Desenho de Luz: Tiago Rios
Técnico de Luz: Leandro Barreto
Direção de Arte: Clara Kutner e Cora Marinho
Figurino e Beleza: Cora Marinho
Artista Visual (Quadro de cena): Alef Felipe
Programação Visual: Arantes Gabriel
Fotos: Zuca Alvino
Colaboradores Artísticos: Bruno Ramos, Gabriel Sampaio, Ricardo Boaretto, Ruan Aguiar, Israel Valdes, Mestre Ramos, Efraim Canuto
Direção de Produção: Aline Carrocino (Alce Produções)
Assistente de Produção: Anne Mohamad
Prestação de Contas: Simone Vieira
Realização: A Arte Nunca Dorme Produções e Cia de Dança SOM
SERVIÇO
“MOVIMENTO DE ESCUTA”
De 23 a 27 de setembro
Os espetáculos são gratuitos. Retirada de ingressos no site xxxxx
Espaço Cênico Yoshifumi Yagi / Teatro Raul Belém Machado
Rua Leonil Prata, S/N – Alípio de Melo
Teatro Marília
Av. Prof. Alfredo Balena, 586 – Santa Efigênia
Núcleo de Formação e Criação Artística e Cultural – NUFAC
Av. dos Andradas, 367 – Centro, Belo Horizonte
Programação
23/09 – Teatro Raul Belém Machado
14:30 – Espetáculo
20:00 – Espetáculo
24/09 – Núcleo de Formação e Criação Artística e Cultural
19:00 – Oficina “Dança com Libras e vibração”
Os interessados em participar precisam preencher o formulário disponível no link https://forms.gle/Nggn2m8wzsRY2Bb8A
Vagas preenchidas por ordem de inscrição. No total, são 30 vagas. ATENÇÃO: 50% das vagas são destinadas para pessoas surdas.
25/09 – Teatro Marília
9:00 – Espetáculo
14:30 – Espetáculo
26/09 – Teatro Marília
14:30 – Espetáculo
20:00 – Espetáculo
21:00 Bate papo performático “Arte Quebra Tabu”
27/09 – Teatro Marília
10:00 – Espetáculo
27/09 – Teatro Marília
19:00 – Exibição dos curta metragen”Mouco”, de Uyan Vilel, e do episódio oito da série
“JÁ”, de Clara Kutner
20:00 – Espetáculo