Excesso de alertas desafia a eficácia do monitoramento financeiro no Brasil

“Instituições financeiras enfrentam o desafio de transformar milhões de alertas em decisões confiáveis no combate a crimes financeiros.”
O Brasil registrou, em 2024, um total de 7,5 milhões de comunicações de operações suspeitas (COS) enviadas ao COAF, mas apenas 18.762 dessas comunicações resultaram em relatórios de inteligência financeira (RIFs). O número, que representa uma escalada de 766% em menos de uma década, mostra que o volume de alertas não se traduz necessariamente em eficácia na prevenção de crimes financeiros.
Especialistas explicam que o problema está no excesso de alertas combinado com a limitação de recursos para análise. “Sem ferramentas de priorização e inteligência analítica, as equipes de compliance acabam sobrecarregadas, gastando energia com falsos positivos e tendo dificuldade para identificar as operações que realmente exigem atenção”, afirma Alexander Fürst, diretor da Cerberus, plataforma brasileira de monitoramento de atividades suspeitas. Segundo ele, esse cenário contribui para a baixa conversão de COS em RIFs.
Casos recentes evidenciam os desafios enfrentados pelo setor. A Operação Carbono Oculto, que investigou um esquema de R$ 52 bilhões ligado ao PCC no setor de combustíveis, revelou como falhas nos processos de diligência e monitoramento podem ser exploradas. Outras operações, como os ataques às empresas de tecnologia C&M Software e Sinqia, demonstraram a dependência crítica de provedores de tecnologia e a necessidade de mecanismos eficientes de segurança da informação.
O contexto regulatório também é dinâmico. Nos últimos anos, o Banco Central tem atualizado normas e exigências de monitoramento baseado em risco, demandando que as instituições financeiras adaptem seus processos e tecnologias de forma contínua. Embora o esforço regulatório seja constante, as instituições precisam conciliar crescimento, inovação e segurança, um desafio que exige recursos humanos qualificados e sistemas tecnológicos robustos.
Nesse cenário, ferramentas de monitoramento com inteligência aplicada têm se mostrado estratégicas. A Cerberus, por exemplo, permite priorizar alertas, reduzir falsos positivos e ter uma visão 360° dos riscos, contribuindo para que equipes de compliance transformem grandes volumes de dados em decisões mais eficazes. A plataforma também oferece integração com sistemas de KYC e painéis de gestão, permitindo acompanhamento estruturado das atividades suspeitas.
Segundo Fürst, a tendência do setor é que tecnologia, governança e análise humana trabalhem juntas, garantindo que o monitoramento contínuo seja convertido em ações confiáveis e ágeis. “Mais do que gerar alertas, o objetivo é transformar informação em decisão embasada”, explica.