Prestes a sair do forno, o novo álbum da diva do soul brasileiro, Paula Lima, é capitaneado por faixa escrita por Emicida – “O universo que habita em mim”, que aterrissou nos streamings com cara, atitude, sonoridade de hino pop e clipe.
“Eu fiz um som novo, novo, novo/ Pra todo povo, pra toda gente/ Firme tipo jura, forte pedra dura/ Pra ver se a gente cura esse mundo doente.” Os versos otimistas que traduzem os desejos de Paula sobre abraçar o mundo, foram escritos por Emicida, maior revelação do hip hop dos últimos anos, considerado um gênio da cena pop contemporânea, especialmente para a cantora paulista, após longas conversas que os dois tiveram antes, durante e depois da pandemia, incluindo as polarizações que dividiram o país em dois hemisférios.
“Depois de muitos encontros e trocas sobre a vida, afetos e o meu desejo por um mundo melhor para o coletivo, ele escreveu a letra com a atmosfera de um hino sobre irmandade, humanidade e fraternidade”, conta Paula sobre a nova versão de estúdio da canção apresentada ao vivo no projeto Sonastério Ilumina. “Já estamos fazendo essa canção nos shows e as pessoas a abraçaram, já cantam junto de forma emocionada e estão cobrando o novo álbum, que vem aí com uma série de inéditas com essa sonoridade black, potente, vibrante”, completa sobre o trabalho que traz composições próprias e músicas de Zelia Duncan, Luedji Luna, Tassia Réis, Rachel Reis, Malu Magalhães e outras e outros incríveis.
Sob conceito artístico e arranjos da própria Paula, a versão inédita de “O Universo que habita em mim” conta com produção de Theo Silva e a colaboração de Fejuca, Bruno Nunes e Deusnir Souza. “Buscamos valorizar a mensagem nesta leitura em que trouxemos cordas, elementos eletrônicos e um coro muito pronunciado, poderoso e amoroso que chega como um abraço! Costumo falar sempre sobre esse meu lugar como cantora e pessoa pública, que o meu ofício vai além do ‘fazer música’, mas também se trata de compartilhar ideias e novas sonoridades para aquecer os corações e as mentes. Acredito na evolução e na transformação. A canção fala sobre amor, sobre estarmos conectados com o outro, com o mundo e com os bons e prósperos caminhos”, arremata.
Dirigido por Allex Colontonio (Elza Soares/Novos Baianos) e Moysah Batista (Racionais/Rashid/Emicida), o videoclipe que acompanha o lançamento ilustra quase de forma literária a mensagem da canção, em superprodução que aborda a diversidade, a pluralidade e a sororidade. É sobre “ninguém soltar a mão de ninguém.” As formas circulares são capitaneadas pela poltrona esfera, clássico do design brasileiro assinado por Ricardo Fasanello nos anos 1970, inspirada no planeta. Essas rotundas se repetem ao longo do clipe por um motivo: em muitas culturas, o círculo é a mais sagrada das geometrias. Na África Subsaariana, a etnia Babemba tem uma tradição de evolução espiritual tão poética quanto funcional: quando alguém comete um erro, ao invés da punição, os anciões fazem uma grande roda em volta da pessoa e cada um fala algo de bom que ela já fez na vida, lembrando-a sobre o quanto ela é importante e sobre a beleza que é andar no caminho do bem.
“Foi pensando nisso e também na leveza e na pureza das crianças, que as trouxemos para o clipe e explicitamos as brincadeiras como a ciranda, a bola e o skate, o lúdico: o algodão doce, o pirulito e os balões. Trouxemos simbolicamente o verde. Amigos também estiveram presentes nesse momento de alegria, amor, harmonia e realização. Em conjunto, é exposta a diversidade e a ideia de um futuro melhor e mais justo para todos, com a presença de Elisa, indígena grávida, da etnia Guarani Mbya Rapha (Daisa, a bebê de Elisa, nasceu três dias depois da gravação do clipe, um presságio abençoado). Rapha Dutra, mulher trans maravilhosa, também esteve presente, representando assim ‘um som novo pra todo povo, pra toda gente’, como escreveu Emicida, que ainda faz uma participação especial no curta”, arremata Paula.
Com duas décadas de carreira, duas indicações ao Grammy e alta reverberação nesta e em outras terras – recentemente, se apresentou em Nova York e na Filarmônica de Berlim com a São Paulo Big Band – Paula Lima é uma das vozes mais ativas da música popular e preta brasileira, com mais de 10 álbuns gravados entre projetos de estúdio e ao vivo, inúmeros prêmios e parcerias incensadas com estrelas da estirpe de Seu Jorge e Jorge Ben Jor, passando por Elza Soares. “O universo que habita em mim” traz muito do pensamento da artista decodificado por Emicida. “É tempo de sonhar, mas também de acordar, olhar para quem está do lado e pensar além, no outro de forma solar. Acredito na transformação pela arte, uma das maiores curas do mundo”, finaliza.