3 e 410 – AZIRA’I, interpretado pela artista indígena Zahy Tentehar, chega ao Sesc Palladium
Apresentado pela Petrobras através do Programa Petrobras Cultural, o espetáculo é dirigido por Denise Stutz e Duda Rios e produzido pela Sarau Cultura Brasileira. O espetáculo autobiográfico foi criado a partir de memória e vivências da atriz com sua mãe, a primeira mulher pajé de sua reserva indígena. Espetáculo foi aclamado no Festival de Avignon Off e ganhou o Prêmio Shell de melhor atriz e melhor iIuminação.

AZIRA’I, escrito por Zahy Tentehar e Duda Rios e interpretado por Zahy, chega a Belo Horizonte para 3 apresentações no Sesc Palladium, sexta, dia 03 de outubro, às 20h e sábado, dia 4 de outubro, com sessões às 16h30 e às 20h. O solo autobiográfico trata da relação entre Zahy e sua mãe, Azira’i, a primeira mulher pajé da reserva indígena de Cana Brava, no Maranhão, onde ambas nasceram. O trabalho, dirigido por Denise Stutz e Duda Rios e produzido pela Sarau Cultura Brasileira, recebeu Prêmios Shell nas categorias de melhor iluminação e melhor atriz. Com isso, Zahy se tornou a primeira artista indígena a ganhar um prêmio de teatro nesta categoria. Os ingressos estão disponíveis na plataforma Sympla com valores a partir de 25 reais.
O espetáculo é apresentado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Cultural, que promove a cultura brasileira como força transformadora. Azira’i celebra a memória, a tradição e a identidade indígena, valores que se alinham ao compromisso da Petrobras de apoiar iniciativas que impulsionam a cultura como motor de transformação e inclusão. Juntos, espetáculo e programa dão visibilidade a uma narrativa indígena única, ressaltando tradição e história que emocionam, inspiram e transformam.
Recém-chegado do Festival de Avignon OFF, na França, o espetáculo teve visibilidade em importantes veículos de mídia da Europa como o jornal Le Monde, Libération, Le Figaro, recebendo destaque como um dos melhores espetáculos dentro do maior festival de teatro do mundo, que recebeu este ano 1.700 produções.
Musical de memórias
Azira’i foi uma mulher muito sábia e herdeira de saberes ancestrais, com vasto conhecimento sobre o mundo espiritual. Como pajé suprema, ela usava três ferramentas tecnológicas para curar: as plantas, a mão e o canto. Ao gerar e criar a filha nesta mesma aldeia, deixou para ela seu legado espiritual.
Ao longo da jornada como artista, Zahy fez do canto uma de suas expressões, que pode ser visto no espetáculo, em que ela canta lamentos ensinados por sua mãe e canções originais compostas por ela com Duda Rios, sob a direção musical de Elísio Freitas, produtor responsável pelo premiado álbum ‘Nordeste Ficção’, de Juliana Linhares, que também divide a autoria de algumas composições com a atriz e o diretor.
É neste verdadeiro ‘musical de memórias’ que se apresentam Azira’i e Zahy, mãe e filha, mulheres nucleares, distintas, diversas e espelhadas: “Sou a filha caçula da minha mãe. A nossa relação, como muitas de nossos brasis, foi diversa: cheia de semelhanças e diferenças, com muitos afetos e composições importantes para nossa trajetória. A presença de minha mãe é tão viva, que a nossa relação se faz continuamente importante. Quando pensei em trazê-la ao teatro, não foi para falar apenas dos meus sentimentos, foi para dialogarmos com nossos reflexos enquanto sujeitos coletivos. Gosto de nos ver, humanos, como espelhos, pois nossas histórias se entrelaçam e se compõem”, analisa Zahy.
Azira’i faleceu em 2021, ao longo do processo de criação da montagem, que começa em 2019, quando Zahy e Duda Rios se conhecem no elenco da montagem de ‘Macunaíma’, dirigida por Bia Lessa e encenada pela companhia Barca dos Corações Partidos, também um projeto da Sarau. Nas conversas de camarim, Duda se surpreendia com o que Zahy contava – ela mesmo se define como uma contadora de histórias – e surgiu ali mesmo a semente de criar um espetáculo a partir daquela vivência em um contexto tão próximo, mas também tão distante.
Duda formatou a dramaturgia junto com a atriz, em uma estrutura narrativa que percorre a história por diversos pontos de vista, como os da própria Zahy, mas também o de sua mãe e de uma narradora. No último ano, Denise Stutz se juntou à dupla de amigos criadores e a encenação propriamente dita começou a ganhar uma forma.
‘O nosso maior desafio foi selecionar, entre tantas histórias que ela havia me contado ao longo de quatro anos, quais iriam compor a dramaturgia da peça. Às vezes queremos abordar muitas coisas num espetáculo e terminamos perdendo o fio da meada. Mas se temos um eixo narrativo claro, a chance do público se envolver é maior. Nesse aspecto, a chegada de Denise foi fundamental, pois ela entrou no projeto pouco antes do início dos ensaios, com um olhar fresco que nos ajudou a identificar o que era essencial pra nossa narrativa’, conta Duda Rios.
Zahy, Denise e Duda conceberam então um espetáculo focado na performance, com apenas uma cadeira e uma cortina de corda crua como elementos de cena, além das projeções do multiartista Batman Zavareze (direção de arte e design gráfico), cenografia de Mariana Villas-bôas, os figurinos de Carol Lobato e a iluminação de Ana Luzia Molinari de Simoni.
“Fui conhecendo as memórias de Zahy durante os meses de ensaio e fui me impressionando a cada dia pela potência das histórias de vida que ela contava e das narrativas sobre a mãe. Quando recebi o convite do Duda para me juntar a ele na direção desta montagem, tivemos conversas quase infinitas e o trabalho não faria sentido se a gente não escutasse primeiro os desejos de Zahy , afinal, é a história dela e são muitas memórias junto com sua mãe. A partir dessa escuta e dos textos que ela e Duda escreviam começamos a tecer esse musical de memórias. O mundo da Zahy está no seu corpo, no seu canto, na sua presença, nas suas histórias, no que é único nela e que é também o outro”, reflete Denise Stutz.
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AZIRA’I nasce ainda do desejo que Zahy tinha de contar as suas histórias reais, mas mostrando uma visão absolutamente não romantizada dos povos indígenas. “Uma história que é minha, mas também é a verdade de muitos brasis. É muito libertador poder falar do ser indígena de uma forma mais humanizada, sem estereótipos ou políticas. Quero poder contar a história de uma pessoa, como outras, que saiu de sua reserva, foi para a cidade, aprendeu uma outra língua e teve uma relação intensa com a mãe”, reflete a atriz.
No palco, ela alterna cenas em português e em Ze’eng eté, trazendo para o centro da cena o debate sobre os processos de aculturamento aos quais sua mãe foi submetida. Neste momento em que o país tem pela primeira vez um Ministério dos Povos Originários, a realização de um espetáculo como AZIRA’I ganha ainda um contorno mais especial.
A produção do projeto é da Sarau Cultura Brasileira, que recentemente foi responsável pelas montagens de ‘Nossa História com Chico Buarque’, ‘Elza’, ‘Viva o Povo Brasileiro (De Naê a Dafé)’, trabalhos marcados por um acerto de contas com a turbulenta biografia do País nos últimos séculos.
Sinopse
O espetáculo autobiográfico aborda a relação de Zahy Tentehar com a sua mãe, Azira’i, a primeira mulher Pajé da reserva de Cana Brava (MA), que ocupou a categoria dos Pajés Supremos dos povos Tentehar, destinado apenas a pessoas com sabedorias medicinais e espirituais extremamente desenvolvidas. A relação entre mãe e filha se dá num contexto necessariamente conflituoso, em um interior nordestino extremamente patriarcal e em uma cultura tensionada entre a preservação de seus valores ancestrais e a absorção de dinâmicas e mazelas de um sistema de civilização globalizado. Ao mesmo tempo em que Zahy é a filha escolhida por sua mãe para herdar os dons de pajelança e comunicação com os Maíras, é também nela que Azira’i descarrega as frustrações de existir num ambiente colonial e opressor.
Ficha Técnica
Um solo de Zahy Tentehar / Dramaturgia: Zahy Tentehar e Duda Rios / Direção: Denise Stutz e Duda Rios / Direção de arte e design gráfico: Batman Zavareze / Cenografia: Mariana Villas-Bôas/ Figurinos: Carol Lobato /Iluminação: Ana Luzia Molinari de Simoni / Trilha sonora: Elísio Freitas / Design de som: Gabriel D`angelo / Direção de Produção e Produção Artística: Andréa Alves e Leila Maria Moreno/ Coordenação de Produção: Hannah Jacques / Produção executiva: Matheus Castro e Fernanda Chazan/ Produção: Sarau Cultura Brasileira/ Assessoria de imprensa BH: Luz Comunicação – Jozane Faleiro
Serviço
Azira’i – com Zahy Tentehar
Classificação: 12 anos Duração: 80 minutos
Data/horário: 3 e 4 de outubro – sexta, às 20h e sábado, com sessões às 16h30 e às 20h.
Local: Sesc Palladium – Rua Rio de Janeiro, 1046, Centro/BH
Ingressos: plateia 1 – R$80,00 inteira – R$40,00 meia / plateia 2 – R$25,00 a R$70,00/ plateia 3 – R$25,00 a R$50,00
Vendas: https://bileto.sympla.com.br/event/105062/d/313061
Ou bilheteria do teatro
Informações: (31) 3270-8100